sábado, 13 de novembro de 2010

Metade

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

Oswaldo Montenegro

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Mães...

Mulheres dedicadas ao amor
Que passam os dias sonhando
E muitas noites em claro
Mulheres de fibra
Que na genética se diferenciam
Não carregam o "Y" consigo
Mas a doçura de Maria
Mulheres de casa, do trabalho
Que lançam pessoas feito flecha
Sempre querendo acertar o alvo
Mulheres que sofrem para ver chegar
E que junto morrem ao se ver partir
Que permanecem mesmo na dor
Para que outros possam sorrir
Mulheres que não se esquivam
Se o mal precisar enfrentar
Que abraçam a causa como sonho
Um sonho prestes a realizar
Mulheres tantas pelo mundo afora
Brasil, Europa, Angola
Em cada lugar uma luta
Em cada lugar uma vitória
Carregam o poder dentro do ventre
Ensinam a ter esperança no amanhã
Mesmo que o mundo ensine diferente
São reflexo de simplicidade
Até mesmo na grafia
É quase sempre o primeiro nome
Que um bebe pronuncia
"Mãe"

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Primeira Vez

Pela primeira vez
Pude ver seu rosto
Que num fututo próximo
Será a expressão maior de afeto
Rosto, que num franzir de testa
Me encherá de dor ou alegria

Pela primeira vez
Pude ver suas mãos
Que num fututo próximo
Serão poesias capazes de transpassar
Mãos, que na pureza de um toque
Transmitirão a paz desejada

Pela primeira vez
Pude ver seus pés
Que num futuro próximo
Serão instrumentos a perpassar
Pés, que no destino de cada dia
Levarão a destinos de bondade

Pela primeira vez
Pude sentir seu coração
Batendo forte, em compasso com o meu
Coração do bebê no ventre da mãe
Coração inocente coração

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Dias de chuva - Juliano Ramos

Dias de chuva
Dias tristes
Dias sem graça

Algumas perdas irreparáveis
Algumas cenas inimagináveis
Alguns sonhos acabados
Novos ombros, novas saudades

Quando um novo amanhã surgir
Mais que a luz
O sol irradiará esperança
Dia após dia, ficarão lembranças

segunda-feira, 22 de março de 2010

Momentos - Juliano Ramos

Tenho eternizadas em mim
As marcas do meu passado
Das aventuras como amigo
E loucuras como namorado

Tenho eternizadas em mim
Datas, sonhos apaixonado
A alegria de um menino
Pelo tempo despedaçado

Se fosse tempestade
Seria como o vento
Mas marcado pela saudade
Sou momento

Tenho eternizados em mim
Os beijos que não foram dados
Sabor agridoce de um destino
Perdido no tempo errado

Tenho eternizado em mim
Segredos que foram contados
Por certo já esquecidos
Por certo já revelados

Se fosse tempestade
Seria como o vento
Mas marcado pela saudade
Sou momento

terça-feira, 9 de março de 2010

Madrugada de Setembro

Uma hora da manhã, madrugada de setembro
Somente o som do ventilador, e o toque no teclado
Não durmo porque borbulham meus pensamentos
Trabalho, filosofia e um texto inacabado

Foram tantas madrugadas que nem lembro
Quanta solidão, tendo pessoas ao meu lado
Tantos sonhos perdidos no tempo
Infinita busca, dia a dia, passo a passo

O que procurava não entendo
Procurava o meu eu, meu retrato
Figuras soltas, imagens passando como o vento
Encontrei somente dor e cansaço

Passei horas, meses, anos sedento
Materializei a busca em fato
Pessoas que amo em desalento
Minha alma fraquejada por maltrato

Maltrato que em meu entendimento
Apenas por mim foi causado
Sofri novamente, mas aprendendo
Que saudade em excesso é estrago

Pessoas que chegaram, passatempo
Não mais estão ao meu lado
Passado de volta com encantamento
Meu recomeço, eis o novo fato

Hoje, madrugada de setembro
Posso escrever meu relato
Amanhã por força do amor, alma do meu sustento
Homem novo serei, pai e marido afiado

segunda-feira, 8 de março de 2010

Alma Nua - Vander Lee

Ó Pai
Não deixes que façam de mim
O que da pedra tu fizestes
E que a fria luz da razão
Não cale o azul da aura que me vestes
Dá-me leveza nas mãos
Faze de mim um nobre domador
Laçando acordes e versos
Dispersos no tempo
Pro templo do amor
Que se eu tiver que ficar nu
Hei de envolver-me em pura poesia
E dela farei minha casa, minha asa
Loucura de cada dia
Dá-me o silêncio da noite
Pra ouvir o sapo namorar a lua
Dá-me direito ao açoite
Ao ócio, ao cio
À vadiagem pela rua
Deixa-me perder a hora
Pra ter tempo de encontrar a rima

Ver o mundo de dentro pra fora
E a beleza que aflora de baixo pra cima
Ó meu Pai, dá-me o direito
De dizer coisas sem sentido
De não ter que ser perfeito
Pretérito, sujeito, artigo definido
De me apaixonar todo dia
De ser mais jovem que meu filho
E ir aprendendo com ele
A magia de nunca perder o brilho
Virar os dados do destino
De me contradizer, de não ter meta
Me reinventar, ser meu próprio Deus
Viver menino, morrer poeta

quinta-feira, 4 de março de 2010

Cantar - Godofredo Guedes

Se numa noite eu viesse ao clarão do luar
Cantando e aos compassos de uma canção
Te acordar
Talvez com saudade cantasses também
Relembrando aventuras passadas
Ou um passado feliz com alguém
Cantar quase sempre nos faz recordar
Sem querer
Um beijo, um sorriso, ou uma outra ventura qualquer
Cantando aos acordes do meu violão
É que mando depressa ir-se embora saudade que mora no meu coração

Ciclos

Nos ciclos da vida é que desvendamos os caminhos
Descobrimos os obstáculos e nos fortalecemos
Na trilha incerta dos dias
Criamos as pontes que nos fazem melhores, ou piores
Em cada etapa que se forma
Mudar significa aceitar o novo que nos é imposto
O importante é não esquecermos quem verdadeiramente somos
É perpetuar o que se foi, e almejar novas vitórias

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Por que “Sob o Sol do Rio” ?

 Sob o sol do Rio, permeio minha vida, crio raízes.

Para quem nunca ouviu, “Sob o sol do Rio” é uma música, que foi composta pelo “meu brother” Cláudio Faria em homenagem a cidade do Rio de Janeiro. Em meio a tantas canções que marcaram minha vida, esta tem um tom especial. Faz-me enxergar a vida sob a perspectiva da esperança.


"Minha alma voa
E manda embora a tristeza do meu peito
Estou no Rio de Janeiro
Terra de mar e amores sem fim"

Foi um estalo a escolha do nome da música para título do meu blog. Numa madrugada, conversando com o Cláudio, contei a ele que tinha voltado a escrever no período que entrei em total estado de depressão. Mandei alguns textos, e ele me incentivou a criar este blog. Poderia falar sobre tecnologia, mas não vou fazer isto. Vou usá-lo como forma de “eternizar no tempo, o que já está eternizado na alma”.

Sob o sol do Rio nasci, morri, ressuscitei.
Fiz amigos e amores
Levo esta brisa aonde for
Não preciso estar no Arpoador

Sob o sol do Rio cantei
Fui lágrima e sorriso
Levo este sonho aonde for
Suspiro encantos de amor

Um Rio de calor e mar
Que mesmo acordado me faz sonhar

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Sob o sol do Rio - Cláudio Faria

Sabe lá
Aonde estará o amor
Além da linha do equador
Ou sob o sol do Rio
Na poesia dos velhos carnavais
Ou na beleza rara do Arpoador
Quem sabe nos olhos
De quem sai do mar
Dourando ao sol
Olhando o Cristo Redentor
Que lindo!
Minha alma voa
E manda embora a tristeza do meu peito
Estou no Rio de Janeiro
Terra de mar e amores sem fim
E do fim de volta ao começo
Sabe lá onde estará o amor
Só sei que vou pro Rio de Janeiro
Cidade Maravilhosa

Coisas da vida - Juliano Ramos

Não sei o que dizer
Não sei como dizer
Coisas da vida talvez
Coisas do tempo, escassez

Escassez de Vida
De sonhos, de futuro
Presente somente o passado
Passado refletido no choro

Choro de dor
Da mãe, dos irmãos
Saudade
Os dias que se foram ficarão

Eternidade
O que não chegou a ser
Passou a ser eternizado
Horizonte inacabado nas lembranças

Dor de muitos, ou poucos
Saudade de muitos, ou poucos
O que compreende a vida é sobreviver
Preso a sonhos e esperanças

Sonho de melhoras
Coisa da vida é sonhar
Esperança no dia a dia
Coisa da vida, nossa travessia

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Ausência - Drummond

"Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim."

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Fruto do sonho - Juliano Ramos

Fruto do sonho
Fruto da vida
Fruto de um amor

Nas palavras de alguns poemas
Nas jornadas traçadas
No café da madrugada

Mesmo antes de ser
Antes de poder
Já era parte de nós

Na reforma da casa
Nos sonhos acordados
Em canções, poemas, retratos

E quando não esperávamos
Para nós você aconteceu
Noite de sexta-feira
Lágrimas no breu

Por poucos instantes
Silêncio, vazio, medo
Do amanhã, da responsabilidade
Das muitas coisas que estariam por vir

Pai e mãe, destinos traçados
Toda poesia se fazendo em carne
Menino ou menina
Por hora apenas amado

Em assim foi sendo
Pelos meses que te desenhavam
Na parede, folha marcada a caneta
No coração, sentimentos sendo forjados

E, quase meados de Abril
Nasci também, fui restaurado
Vinicius, com nome e alma poética
Nosso filho querido, nosso filho sonhado

E hoje?
A poesia continua
No dilúculo, o café também
As canções também não mudaram
Apenas fomos multiplicados, somos três.

Nesta época do ano - Juliano Ramos...

Nesta época, em que a comunhão entre as pessoas é mais intensa, é também época de rever o que poderemos aproveitar do Tempo que passou, de esquecer os sofrimentos e fazer brotar no coração a esperança.

Em meu íntimo, sempre considerei triste esta época do ano, pois, no momento que me ponho a relembrar, é inevitável a saudade das pessoas com que gostaria de reviver doces lembranças. Como não posso mudar os fatos, vou me atendo em tornar menos dolorosa a falta.

Durante muitos finais de ano, refleti a cerca dos fatos que selaram em mim boas e más recordações. Nunca maturei sem passar pela libertadora experiência do reviver em pensamento as dores e alegrias conquistadas.

Neste ano preciso, não só recordar, não só refletir (pois as reflexões fizeram parte do meu dia a dia). Neste ano especial, preciso agradecer, agradecer, agradecer..... A todos, que direta ou indiretamente me acompanharam e contribuíram para minha evolução.

Preciso agradecer a Deus, que por muitos anos não o buscava mais, ou melhor, buscava onde jamais o encontraria, por ter fechado meu coração e endurecido meus sentimentos. No momento que precisei, ele estava lá me mostrando tudo que havia deixado e me empurrando pra vida. Através da palavra proclamada por homens, fez-me entender que caminhar sem ele, é impossível.

Preciso agradecer a minha esposa e ao meu filho, que experimentaram minha ausência, minha indiferença, e que mesmo assim, no momento que precisei me deram as mãos e me reergueram. Conheceram o que tenho de pior, mas ficaram do meu lado. Velam-me diariamente para a cura. Preciso também me desculpar por tê-los feito passar por tudo o que passaram.

Preciso agradecer a minha família que choraram muito por minha causa, mas que nos poucos momentos que juntos estivemos, tentaram me compreender, e me mostraram o melhor caminho a trilhar. Preciso agradecer pela certeza de nunca estar desamparado.

Preciso agradecer a minha médica, que pelas mãos de Deus, estava no lugar certo e na hora certa, para me atender e dar o melhor de si.

Preciso agradecer aos poucos amigos, não os citarei, pois de coração eles sabem que são. Eles estiveram presentes nos momentos mais difíceis. Discordaram de muitas atitudes que tomei, mas mesmo assim, permaneceram firmes ao meu lado. Neste ano que finda, conheci tanta gente, e todas estas pessoas só me fizeram enxergar quem são meus verdadeiros amigos. Não estão comigo pela facilidade, e sim pelas batalhas que podemos enfrentar. Não querem nada além de palavra e disponibilidade.

Tempo - Juliano Ramos...

Tempo que passou
Tempo que virá
Nomeados passado, presente ou futuro
Tempo de recomeçar

Fim da saudade
Fim do sofrimento
Substituídos pela grande amizade
Recomeço de um novo tempo

Alegria na chegada
Nas conversas intermináveis
De sol em sol, virando a madrugada
Lembranças do começo, inevitáveis

Dia após dia
Mudança
Dia após dia
Lembrança

Nos erros
Descobrimos os acertos
No tempo
A vontade de acertar

Na ferida
Descobrimos a dor
Na presença
O amor

Na saudade
Descobrimos a falta
Na companhia
A esperança

Na vitória
Descobrimos o Eu
No desespero
Deus

Nas descobertas
Certezas, incertezas
Em Deus
Paz